A região cervical é equipada com uma elaborada musculatura e a atividade coordenada de todos os músculos influenciam na orientação da coluna cervical e posição da cabeça. O intrincado controle neural da coluna cervical indica que a nocicepção, pode ter uma profunda influência no controle do movimento e estabilidade da cabeça. Hoje vamos abordar sobre os distúrbios neuromusculares na dor cervical .
Algumas teorias têm sido propostas ao longo dos anos para explicar as adaptações neuromusculares que acompanham a dor. Isso inclui os modelos clássicos como o de adaptação a dor e o do ciclo vicioso, que predizem muitas mudanças estereotipadas na presença da dor. Embora um considerável número de achados experimentais venha dando suporte para cada um dos modelos, nenhum deles é capaz de explicar a complexidade e a diversidade das adaptações neuromusculares observadas em indivíduos com dor musculoesquelética, incluindo as diversas adaptações neuromusculares que acompanham a dor cervical. Como resultado, teorias contemporâneas foram propostas para explicar melhor as adaptações motoras a lesão/dor que abrangem a maior diversidade de adaptações motoras observadas em casos clínicos. Alguns dos princípios chave da teoria contemporânea indica que:
- dor relacionada as adaptações neuromusculares envolvem uma diversidade de mudanças, que variam de uma súbita redistribuição da atividade dentro de um músculo até uma completa evitação do movimento;
- apesar das características comuns, os indivíduos apresentarão a sua própria combinação única de adaptações neuromusculares;
- as adaptações neuromusculares relacionadas à dor têm um objetivo comum inicialmente que é proteger a região corporal dolorosa ou ameaçada da dor de uma lesão/dor real ou antecipada;
- adaptações neuromusculares podem ser iniciadas na presença de dor/lesão mas também serem o gatilho inicial para o desenvolvimento da dor;
- se as adaptações neuromusculares forem mantidas podem levar as adaptações secundárias e/ou consequências de longa duração;
Tais teorias contemporâneas são sustentadas por uma riqueza de dados de estudos experimentais e clínicos incluindo os indivíduos que sofrem com as desordens de dor cervical.
Um número variado de adaptações, podem ocorrer em indivíduos com desordens de dor cervical. Essas mudanças podem variar de modificações mais gerais como a diminuição da força dos músculos cervicais, através de variações súbitas na distribuição da atividade dentro e entre os músculos. Existem evidências convincentes de que a nocicepção/lesão seja o gatilho inicial para tais adaptações, embora as mudanças continuadas ou mal adaptativas do controle neuromuscular possam contribuir para a cronicidade, manutenção e recorrência da dor cervical. Ou seja, a coordenação muscular alterada que envolva combinações de sinergias menos eficientes podem alterar as cargas nas estruturas cervicais incluindo os próprios músculos e aumentem a vulnerabilidade da região cervical as distorções e que resultem na deflagração ou manutenção da nocicepção. Além disso, a dor cervical vem sendo associada com algumas adaptações periféricas nos músculos, incluindo as mudanças na área seccional transversa, infiltração gordurosa e alterações específicas das fibras musculares, que podem em parte ser guiadas pelas alterações do comportamento muscular.
As adaptações neuromusculares são uma reação comum e esperada diante da nocicepção. Existe uma literatura abundante descrevendo essas mudanças em indivíduos com desordens neuromusculares cervicais. Em resumo são:
- Output motor: diminuição de força e endurance muscular, arco de movimento, velocidade e suavidade do movimento
- Comportamento muscular: aumento da coativação muscular, redução da especifidade na atividade muscular, diminuição da ativação dos músculos profundos, respostas musculares atrasadas, diminuição do relaxamento muscular e aumento da fadiga
- Propriedades musculares: infiltrados de gordura, atrofia, microcirculação reduzida, transformação das fibras e alterações bioquímicas
Embora essas mudanças possam ter algum benefício à curto prazo, atuando para proteger uma coluna cervical dolorosa, no longo prazo tais adaptações se tornam mal adaptativas e podem contribuir para persistência e recorrência dos sintomas. Isso pode ocorrer, por exemplo, se a adaptação para proteger a coluna cervical resulta no aumento considerável das cargas sobre as suas estruturas (exemplo: uma maior coativação dos músculos da região) ou se ocorre um aumento do risco de uma lesão adicional (exemplo: ativação muscular atrasada durante as perturbações corporais). Potencialmente, as mudanças no comportamento muscular podem levar a alterações na sua estrutura e contribuir para a sintomatologia e afetar a recuperação funcional.
Fonte: Management of neck pain desorders – A research-informed approach – Gwendolen Jull, Deborah Falla, Julia Treleaven e Shaun O’Leary – 2019
Jorge Arrigoni – Equipe HEAD & NECK Fisioterapia
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