Hoje vamos falar sobre um tema que preocupa muito, as mães e os pais. Saiba que é uma queixa muito comum. Trata-se da cefaleia ou dor de cabeça em crianças e adolescentes. Vamos lá!

Sabemos que nossos filhos durante o seu crescimento vão apresentar um ou outro episodio de dores de cabeça. Muitos se recordarão de casos de sinusite ou outros processos infecciosos que desencadeiam essas dores. Existem várias situações benignas tais como problemas visuais, calor, frio, falta de alimentação, dormir pouco, bruxismo que também devem ser consideradas. Nesse caso estamos diante de quadros que conhecemos como cefaleia ocasional e esses serão debelados, quer dizer, serão vencidos tão logo a causa seja diagnosticada e tratada. Aliás ,isso é muito mais frequente do que imaginamos.

Um estudo muito interessantes realizado pelo grupo de Bille B, com 40 anos de follow up (acompanhamento) e publicado na revista Cephalalgia em 1997 avaliou mais de 9 mil crianças em idade escolar. Algumas dessas crianças buscavam esporadicamente o departamento médico enquanto que outras o faziam de forma mais frequente o que interferia na rotina de estudos e da das atividades de vida diária. Quando comparados esses grupos, as cefaleias ocasionais ocorriam em 47 % dos casos enquanto que a somente 7% atingia os que tinham cefaleias mais frequentes. Ainda desse estudo um dado interessante foi que essas queixas iam aumentando com a idade de modo que aos 15 anos entre 57 e 82 % das crianças estudadas podiam apresentar dores de cabeça.

Um ano antes (1996) um estudo de um brasileiro chamado Barea e realizado com crianças que viviam no Sul do Brasil mostrou que 90% dos adolescentes na idade de 18 anos queixavam-se de dores de cabeça, a maioria ocasionais

Ainda falando de epidemiologia existem outros dados interessantes: antes dos 12 anos de idade, a prevalência de dores de cabeça é semelhante entre meninos e meninas (aproximadamente 10%); após os 12 anos, a prevalência é maior em meninas (aproximadamente 28 a 36% versus 20%); dores de cabeça ocorrem mais frequentemente em crianças que têm histórico familiar de dores de cabeça, em parentes de primeiro ou segundo grau, o que nos leva a pensar em cefaleias primarias mas não podemos excluir causas de cefaleias secundarias (tumores, por exemplo).

Com esses dados vem a pergunta dos pais: “Quando eu deveria preocupar-me?”

 

Quando preocupar-se?

 

Muito raramente cefaleias em crianças são causadas por problemas sérios, mas a persistência e a frequência dos sintomas deve levar os pais a procurar um especialista, para esclarecimento do diagnóstico e tratamento adequado, visto que existe uma ampla variabilidade de apresentações clinicas que as vezes nos dificulta classificá-las dentro do modelo propsoto pela  IHS.

A dor de cabeça que começa na infância muitas vezes muda em suas características com o passar do tempo e pode desaparecer ou melhorar. Em um outro estudo, 100 crianças e adolescentes com dor de cabeça foram atendidos oito anos após a visita inicial e constatou-se que a remissão ocorreu em 44% das crianças com dor de cabeça de tensão e em 28% das crianças com enxaqueca. A enxaqueca sem aura persistiu na mesma forma em 44% e tornou-se dor de cabeça episódica em 26%. A dor de cabeça episódica tensional persistiu na mesma forma em 26% e mudou para enxaqueca sem aura em 11%. A comorbidade psiquiátrica na consulta inicial esteve associada à piora ou inalterada do estado clínico no seguimento

Em outro estudo de longo prazo com 103 crianças com dor de cabeça crônica (>15 dores de cabeça por mês), as dores de cabeça frequentes persistiram em 25% aos dois anos e 12% aos oito anos. O início precoce foi associado a um curso prolongado da doença.

 

Como avaliar a dor de cabeça em crianças e adolescentes?

 

A  avaliação deve constar de uma anamnese bem rigorosa, exame físico detalhado e quando necessário exames complementares que serão solicitados pelo médico responsável.

Como um grupo de fisioterapeutas especializados em tratamento das dores de cabeça temos recebido muitos pacientes encaminhados pelos pais e amigos que julgam que o problema da criança pode ser relacionado à postura ou à coluna cervical.

Nesses casos após uma avaliação fisioterapêutica muito criteriosa, onde buscamos evidências de disfunção musculoesquelética nesses pacientes, temos a responsabilidade de saber detectar os sinais de alarme (red flags) e quando encaminhar imediatamente para um neurologista ou uma emergência.

De maneira resumida aqui vão algumas situações nas quais devemos encaminhar os pacientes :

  • Dores de aparecimento súbito e de intensidade muito forte;
  • Dores que tiveram sua origem após um trauma;
  • Dor de cabeça secundária que requer manuseio especializado (por exemplo, lesões que ocupam espaço, hipertensão intracraniana idiopática);
  • Dores de cabeça associadas a perturbação de humor ou ansiedade;
  • Diagnóstico incerto;
  • Dores de cabeça muito frequentes que não respondem à terapia típica (ou seja, enxaqueca crônica ou dores de cabeça do tipo tensão crônica);
  • Suspeita de meningite (febre, rigidez de nuca, petéquias, alteração de sensório);
  • Sinais neurológicos focais;
  • Cefaleia que piora de intensidade em decúbito ou o edema de papila;
  • História de  comorbidades de maior risco (anemia falciforme, imunodeficiências, história de neoplasia, coagulopatias, doenças cardíacas, neurofibromatose, esclerose tuberosa, entre outras).

 

Palmiro Torrieri – Equipe Head & Neck Fisioterapia

 

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Referências

  1. Newton RW. Childhood headache. Arch Dis Child Educ Pract Ed 2008; 93:105.
  2. Abu-Arafeh I, Razak S, Sivaraman B, Graham C. Prevalence of headache and migraine in children and adolescents: a systematic review of population-based studies. Dev Med Child Neurol. 2010;52(12):1088-97.
  3. Thompson AP, Thompson DS, Jou H, Vohra S. Relaxation training for management of paediatric headache: A rapid review. Paediatr Child Health 2019; 24:103.
  4. Gladstein J, Mack KJ. Common presentations of chronic daily headache in adolescents. Pediatr Ann 2010; 39:424.
  5. Guidetti V, Galli F. Evolution of headache in childhood and adolescence: an 8-year follow-up. Cephalalgia 1998; 18:449.
  6. Guidetti V, Galli F, Fabrizi P, et al. Headache and psychiatric comorbidity: clinical aspects and outcome in an 8-year follow-up study. Cephalalgia 1998; 18:455.