A dor cervical é altamente prevalente, afetando 50% da população e ocupando o quarto lugar em incapacidades. As diretrizes para o tratamento, recomenda um pacote multimodal de cuidados e o exercício é um componente fundamental nesse processo. Os benefícios a curto prazo são bem documentados, mas a longo prazo ainda temos resultados inconclusivos, pois sabemos que 70% dos pacientes com dor cervical inespecífica, poderão desenvolver dor crônica. Para reduzir os sintomas recorrentes, os especialistas devem entender as variáveis com exercícios, como dosagem para maximizar seus efeitos.
As diretrizes clínicas e as revisões sistemáticas fornecem recomendações baseadas em evidências moderadas de que o exercício aeróbico ou fortalecimento tem efeitos na dor e incapacidades, mas fornecem poucos detalhes ao tipo de exercícios a ser executado na clínica. Os estudos descrevem vários programas, com objetivo de melhorar a função neuromuscular ou capacidade motora da musculatura do ombro ou pescoço. Os programas contêm exercícios isométricos, concêntricos e excêntricos utilizando pesos e polias, treinamento de membros superiores (MMSS) usando halteres ou reabilitação do pescoço utilizando a musculatura flexora ou extensora profunda do pescoço.
Além disso, dosagem para exercício é pouco descrito na literatura para dores no pescoço, manipular a dosagem (intensidade, frequência e duração) tem efeitos significativos nos resultados, como força, potência, hipertrofia e desempenho. As evidências sugerem doses mais altas, obtendo resultados positivos nos pacientes com dores no pescoço. Portanto qual será a dosagem ideal para melhorar dor e incapacidade?
Um estudo publicado por Jonathan Price, teve como objetivo, sintetizar através de uma revisão sistemática, investigar a eficácia de um programa de exercícios para dor e incapacidades na região cervical. Um objetivo secundário seria investigar a dosagem e o efeito nos resultados. Nesse artigo foram incluídos exercícios direcionados para o pescoço e ombro, onde os indivíduos aplicam força contra resistência (gravidade, mãos e objetos externos) para melhora da função motora e função neuromuscular. Foram incluídos exercícios de controle motor usando o biofeedback ou gravidade. Exercícios de senso de posição articular cervical, oculomotor, estabilidade do olhar. Programas de exercícios combinados com terapia manual ou educação, forma incluídos no estudo.
Os períodos de acompanhamento foram registrados como:
- Imediato (24 horas)
- Curto prazo (>24 horas)
- Intermediário (> 3 meses)
- Longo prazo (12 meses) .
Efetividade dos exercícios
Controle motor – os estudos que reduzem a dor imediatamente foram encontrados em 3 estudos, mas de modo inconsistentes. Um estudo encontrou um grande efeito em comparação com a terapia manual, mas outros dois estudos não encontraram nenhuma diferença em comparação com outros exercícios. Chegando a conclusão que os exercícios de controle motor não são eficazes para reduzir dor e incapacidade imediata, curto prazo e médio prazo.
Pilar (capacidade de manter a coluna neutra)- Não são eficazes para reduzir dor e incapacidade a curto prazo e possui evidência de baixa qualidade para médio prazo com dosagens progressivas.
Segmentares – não mostrou efeitos superiores quando comprados com controle motor para dor e incapacidade, mostrando com evidência de nível moderado que não são eficazes para alívio de dor imediata. Um estudo descobriu que o exercício segmentar é menos efetivo para dor e incapacidade quando comparados aos exercícios segmentares + controle motor.
Exercícios para membros superiores – Um estudo mostrou grande efeito na redução da dor e incapacidade quando comparados a nenhum tratamento e outro estudo encontrou efeito moderado a grande quando comparados com educação. Com base em evidência de baixo nível, os exercícios de MMSS são eficazes a curto prazo, mas não a médio e longo prazo.
Dosagem ideal para diferentes programas de treinamento físico
Controle Motor- Os ensaios mostraram efeitos positivos, à medida que aumentamos a frequência e doses dos exercícios de controle motor.
Pilar- Os ensaios falam que aumentar progressivamente a dosagem dos exercícios são superiores quando comparados ao treinamento com carga fixa.
Segmentar – não foi possível investigar a dosagem dos exercícios segmentares, pois apenas um estudo foi encontrado usando uma única dosagem de exercício.
Nenhum programa de exercício foi eficaz no acompanhamento imediato ou longo prazo. Os exercícios de pilar foram eficazes no médio prazo quando comparado a nenhum exercício. As melhores evidências foram encontradas em exercícios multimodais, envolvendo várias estratégias no mesmo tratamento. Uma explicação para isso é que os exercícios de controle motor melhoram a função neuromuscular dos músculos cervicais mais profundos e os exercícios segmentares melhoram a força, resistência e fadiga dos músculos superficiais.
As evidências ainda são conflitantes, devido ao baixo número de estudos, mas mostraram que dosagens mais altas são mais eficazes na redução da dor e incapacidade quando comparados com dosagens mais baixas.
Marcio Quirino – Equipe Head & Neck FISIOTERAPIA