Hoje vamos falar de uma cefaleia rara a hemicrania paroxística, ou seja, a maioria dos fisioterapeutas que trabalham nessa área dificilmente vai encontrar muitos casos.

Pertence ao grupo das cefaleias trigeminais autonômicas e se parece com a cefaleia em salvas, mas possui algumas características que permitem sua inclusão na Classificação internacional das cefaleias.

Essa cefaleia predomina no gênero feminino, embora em um artigo de Cittadini (2008) propõe uma relação de 1 homem para 1 mulher. Essa cefaleia inicia-se mais na idade adulta apresentando duas formas: uma crônica e uma episódica. Pacientes com hemicrania paroxística crônica podem apresentar dores diariamente por mais de um ano ao passo que na forma episódica podem apresentar remissão por meses até anos.

Interessante notar que essa cefaleia foi descoberta em 1974.  Na ocasião o professor SJAASTAD publicou um artigo “A new (?) Clinical headache entity “chronic paroxysmal hemicrania” e nele descrevia casos de pacientes que apresentavam dor de cabeça de curta duração, frequentemente ocorrendo ataques de dor de cabeça em 24 horas. A dor é extremamente severa, unilateral (sempre do mesmo lado), mais localizada na distribuição trigeminal especialmente as regiões temporal, orbital ou retro orbital. Um dos poucos pacientes que vi com esse quadro apresentava também dores na região occipital e dentes. Existem relatos de dores na orelha e até dentes durante os ataques. Apesar dos ataques serem desacompanhados de fenômenos visuais, náuseas/vômitos, fenômenos autonômicos como congestão nasal, ptose, lacrimejamento que ocorrem no lado sintomático. Esses ataques são de curta duração variando entre 20 a 30 minutos e usualmente assim como aparece de forma abrupta também pode cessar abruptamente. Normalmente observamos os pacientes muito agitados durante as crises. O padrão de ataque difere claramente do da dor de cabeça do cluster, tanto no que diz respeito à frequência quanto ao padrão temporal de longo prazo.

Os ataques de dor podem ser abolidos por uso contínua de indometacina.

Os criterios da IHS de 2018 propõe:

A. Ao menos 20 crises preenchendo os critérios B-E
B. Dor forte unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal, durando de 2-30 minutos
C. Um dos ou ambos os seguintes:
1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais, ipsilaterais à cefaleia:
a. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
b. congestão nasal e/ou rinorreia
c. edema palpebral
d. sudorese frontal e facial
e. miose e/ou ptose
2. sensação de inquietude ou de agitação
D. Ocorrendo com uma frequência >5 por dia
E. Prevenidas de forma absoluta por doses terapêuticas de indometacina
F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Na maioria dos casos as crises aparecem espontaneamente mas existem descrições de que movimentos cervicais, exercícios, álcool e estresse podem ser fatores desencadeantes. Existe uma excelente resposta quando os médicos usam a indometacina. A classificação internacional de dores de cabeça, a IHS, sugere que para um adulto, a indometacina oral deve ser utilizada inicialmente em uma dose de ao menos 150 mg ao dia e aumentada, se necessário, até 225 mg ao dia. A dose injetável é de 100-200 mg. Doses de manutenção menores são frequentemente empregadas. Mas seu médico é que sera responsável pela escolha da droga e da quantidade.

O diagnostico diferencial deve ser feito excluindo outras cefaleias trigeminais autonômicas tais com SUNCT, cluster headache, hemicrania continua e hemicrania paroxistica secundaria onde podemos encontrar desde tumores, problemas vasculares e ate reumatológicos, infecciosos e sanguíneos que requerem  investigação profunda. Por isso é fundamental buscar um profissional especializado em dor de cabeça para que exames complementares sejam solicitados.

 

Palmiro Torrieri – Equipe HEAD & NECK FISIOTERAPIA

 

REFERÊNCIAS:

Sjaastad O, Dale I. A new (?) Clinical headache entity “chronic paroxysmal hemicrania” 2. Acta Neurol Scand 1976; 54:140.
Antonaci F, Sjaastad O. Chronic paroxysmal hemicrania (CPH): a review of the clinical manifestations. Headache 1989; 29:648.
Irimia P, Cittadini E, Paemeleire K, et al. Unilateral photophobia or phonophobia in migraine compared with trigeminal autonomic cephalalgias. Cephalalgia 2008; 28:626.
Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia 2018; 38:1.
Medina JL. Organic headaches mimicking chronic paroxysmal hemicrania. Headache 1992; 32:73.