Braig ( 1978), falou que uma função alterada do sistema nervoso, pode levar a um fenômeno de “contração do tecido”, promovendo uma redução da mobilidade neural. Com o avanço dos estudos, a neurodinâmica clinica, pode ser conceitualizada como aplicação de manobras, que visam melhorar a mecânica e fisiológica do sistema nervoso, já que estão relacionadas entre si, mantendo relação íntima com o sistema músculo esquelética (Shacklock).
O Objetivo dos testes neurodinâmicos seria reduzir a tensão neural, colocar menos alongamento no nervos e dar ênfase a outros mecanismos como:
- Alteração no fluxo sanguíneo neural;
- Inflamação;
- Mecanossensibilidade ;
- Repostas musculares.
O tecido Neural possui três requisitos importantes para um bom funcionamento:
Espaço
Os nervos precisam deslizar em espécies de tubos, sem impedimentos, em diferentes áreas do corpo e nesse trajeto, eles encontram diversas estruturas como: músculos, ossos, ligamentos e fáscias. Os estudos mostram que se essas estruturas forem danificadas, podem gerar repercussões nos tecidos neurais adjacentes, como por exemplo:
- Túnel do tarso;
- Túnel do carpo ;
- Forame intervertebral ;
- Canal medular ;
- Piriforme .
A pressão nos nervos por pouco período de tempo, só causa parestesia, caso essa pressão permaneça por longos períodos, comprometimento vascular poderia acontecer e como os nervos são sedentos por sangue, essa supressão poderá causar dor. A compressão da raiz cervical superior, do gânglio da raiz dorsal e nervos occipitais maiores, pode ser associado a redução da mielina ao redor do nervo, levando ao aumento das repostas mecânicas, químicas ou térmicas podendo surgir as verdadeiras cefaléias cervicogênicas. Essa idéia de espaço, leva a muitas intervenções terapêuticas tanto conservadoras quanto cirúrgicas.
Movimento
A fisioterapia vem estudando bastante os movimentos de articulações, músculos, fáscias e agora a nível neural. De uma posição neutra da coluna cervical, para uma flexão, a medula movimenta em média 10% e da extensão cervical para flexão pode aumentar em até 20%, mesmo vale para o sistema nervoso periférico. Antes os estudos eram realizados em cadáveres, mas hoje são utilizados ultra-som e mostram que pessoas com alguma patologia nos nervos, possuem menos movimentos que pessoas normais.
Em dois estudos realizados com cefaléia cervicogênica, a neurodinâmica foi avaliada usando a flexão cervical alta passiva, juntamente com a perna estendida (Slump Teste), 4 até 10% apresentaram dor de cabeça com adição de movimento da extremidade, no outro estudo, 18% das pessoas relataram dor de cabeça, com os testes neurodinâmicos, isso demostra que devemos sempre avaliar o componente neurodinâmico nesses pacientes que apresentam cefaléia ou enxaqueca.
Fluxo sanguíneo
O cérebro e a medula espinhal consomem de 20 até 25% do oxigênio disponível circulante no corpo, se um nervo for alongando 6 até 8%, podemos gerar uma significativa redução do fluxo sanguíneo e se for alongado em até 15%, o fluxo poderá ser totalmente interrompido, podendo levar a uma desmielinização, resultando em sensibilização periférica. Técnicas que visam restaurar o movimento e por consequência o fluxo sanguíneo, tem potencial de reduzir dor, baseado em produtos químicos, além de manter a função normal do sistema nervoso.
Ao investigar dor de cabeça, pós anestesias peridurais, parece plausível, que qualquer condição que cause um “puxão “descendente na dura-máter, pode criar uma dor de cabeça de origem dural, através da relação com o complexo trigeminocervical, iniciando sintomas de dor de cabeça. Devido a essa estreita relação entre dura-máter e o complexo trigeminocervical, problemas a níveis torácicos e até lombares, podem ser gatilhos para dor de cabeça.
As falhas mecânicas primárias no sistema nervoso podem ser :
- Deslizamento reduzido;
- Compressão ( relacionado ao tecido que forma uma interface mecânica ).
Como qualquer outro tecido humano, existe uma faixa de carga ideal, que mantém sua função e saúde, podendo sofrer lesões, se a carga for muito alta. Os efeitos fisiológicos do alongamento e compressão, incluem alterações do fluxo sanguíneo intraneural, condução e transporte axoplasmático.
A compressão por si só das estruturas da cervical superior ( gânglio da raiz dorsal e nervos occipitais maiores, não se relacionam diretamente aos sintomas da cefaléia, necessitando uma combinação com o deslizamento e fluxo sanguíneo reduzidos, para produzirem sinais e sintomas nesses pacientes .
Alguns problemas a ser analisados antes do manuseio:
- Tenha um raciocínio clinico para realizar os testes, uma suspeita patobiológica do problema;
- Explicar ao paciente o procedimento que irá realizar e que sinta a vontade de relatar os sintomas ;
- Observe posturas antálgicas e repostas motoras do paciente ao realizar o teste, as consistências dos sintomas, devem ser semelhantes nas manobras realizadas ;
- Testar o lado contralateral;
- Explique sua descoberta ao paciente ;
Testes neurodinâmicos relacionados a dor de cabeça
Os testes neurodinâmicos relacionados a dor de cabeça, inclui o teste de queda e suas variações, pois influência todo o aspecto longitudinal do SNC. Zzikszay, observou respostas sensoriais mais alta, em adultos que apresentaram dor cervicogênica, durante o teste de queda. Von Piekartz, encontrou resultados semelhantes em crianças com dor de cabeça cervicogênica ou enxaqueca. Um ensaio clinico randomizado, descobriu que a inclusão de técnicas neurodinâmicas, numa abordagem multimodal foi capaz de reduzir os sintomas de dor na cabeça ( Ferragut-Garcia, et al 2017).
Conclusão
O objetivo de avaliar neurodinamicamente, seria para diferenciar desordens de origens músculo-esquelética x nervos. As técnicas pretendem melhorar a adaptabilidade, reduzir a mecanossensibilidade e ativar mecanismos analgésicos, estimulando mecanicamente os nervos com palpação, alongamento e deslizamento, sem produzir danos aos mesmos. Precisamos de mais estudos para comprovar a eficácia da técnica, já que temos plausibilidade biológica, relacionando os pacientes com cefaléia e os distúrbios neurodinâmicos .