Quando pensamos em dor de cabeça cervicogênica, nossa mente é direcionada para a coluna cervical. A razão de focar a cervical é devido a uma característica importante para caracterizarmos a origem desse tipo de dor de cabeça. Então, dor de cabeça que inicia com sintomas cervicais, principalmente alta e, sendo unilateral, a probabilidade de ser do tipo cervicogênica é muito alta. Estaremos diante do grupo de cefaleias secundárias segundo IHS ( International Headache Society).
O mecanismo neural envolve a via núcleo trigemino cervical. Fibras neurais de tecidos na coluna cervical alta ( principalmente C1,C2,C3 ), tais como: cápsula articular, ligamentos, músculos, e ponte miodural, convergem para o núcleo trigemino cervical que, por sua vez, também possui fibras do nervo trigêmeo.
Muito tem se falado dos grupos musculares que participam dos movimentos maiores da coluna cervical (Trapézio, ECOM, Longuissimo do pescoço, esplênios, etc), no entanto, poucos dão atenção especial ao grupo de músculos localizados na base do crânio, conhecidos comumente como grupo muscular subocciptal. Esses grupos musculares: Reto da Cabeça Posterior Maior (RCPma) e Reto Cabeça Posterior Menor (RCPmi), Obliquo da Cabeça Superior e Obliguo da Cabeça Inferior possuem funções importantes de controle motor( o maior número de fusos musculares), movimentos da cervical alta e conexões com a dura mater.
Estudos de EMG, mostram que o RCPMi não é ativado durante a extensão da cabeça. Pelo contrário, o RCPMi está ativo quando a cabeça é transladada para a frente na articulação atlanto-occipital. Também é vista a densidade substancialmente mais alta de fibras do fuso muscular da musculatura suboccipital. O RCPMi e o (RCPMa) contém densidades do fuso de 36 fusos / g de músculo e 30,5 fusos / g. músculo, respectivamente. Isso é notável em comparação às densidades do fuso dos músculos esplenius capitis (7,6 fusos / g.) e o glúteo máximo (0,8 fusos / g.), sugerindo que o RCPMa e o RCPMi têm uma atividade amplamente proprioceptiva. O alto nível de densidade do fuso muscular pode atuar para ativar os extensores cervical que resistiriam à hiper-flexão ou hiper-translação na articulação atlanto-occipital e, por sua vez, ajudariam a proteger a dura máter cervical de um alongamento rápido potencialmente nocivo ou traumático.
As conexões com a dura mater são chamadas de “Pontes Miodural” , esse termo é definido como uma banda de tecido conjuntivo ligada à dura-máter ou a membrana atlanto-occipital, originária da cobertura das fáscias (compreendendo colágeno Tipo I) dos músculos suboccipitais e / ou mostrando uma continuação direta e reta das fibras musculares estriada. A ponte miodural é vista bilateralmente em 93% dos casos sem possiblidade de ser vista unilateral. A conexão principal é das estruturas do músculo reto da cabeça posterior menor à membrana atlanto-occiptal posterior. A conexão mais frequente é do tipo tendão, com a ponte miodural passando entre a membrana atlanto-occiptal posterior e a fixação inferior do musculo reto da cabeça posterior menor ao atlas. O RCPMi e a ponte miodural podem ajustar dinamicamente a tensão da dura-máter em conjunto com estruturas ligamentares nas proximidades do forame magno e dos côndilos occipitais.Também, a ponte miodural pode ajudar a manter o fluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR) através do espaço subaracnóideo e do forame magno próximo, impedindo a dobra da dura-máter durante prolongada extensão do pescoço.
As evidencias para a importância clinica da ponte miodural na dor no pescoço e dor de cabeça existem em estudos de RMI que apresentam que o RCPmi de indivíduos com dor crônica de pescoço devido a trauma de chicote contem quantidade significante de infiltrados gordurosos, provavelmente lesão da musculatura subocciptal. Ainda é visto denervação no musculo devido ao trauma.
Deve-se notar que dores de cabeça cervicogênicas crônicas podem surgir da hipertrofia do RCPMi, o que pode levar ao aumento da tensão diretamente na dura espinhal através da ponte miodural.
Outra evidencia muito importante é o papel potencial da dura-máter na coluna espinhal dorsal pode ser causado pelo fato de partes dela serem inervadas pelos nervos espinhais C1, C2 e C3 que se projetam no núcleo trigêmeo da coluna, onde convergem com estímulos nociceptivos da cabeça . Além disso, a ponte miodural também pode aplicar tração diretamente na dura-máter craniana sensível à dor através do forame magno, mas isso ainda não foi investigado. A presença de uma ponte direta ligando o sistema músculo-esquelético à dura máter fornece uma possível explicação mecânica para a eficácia do tratamento da cervical na dor de cabeça. Essa ponte miodural pode levar a mais opções terapêuticas específicas para profissionais que tratam pacientes com dor de cabeça crônica.
Edelberto Marques – Equipe Head & Neck Fisioterapia
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